Deus e deuses
Pastor Paulo Branco
Mestre em Ciência das Religiões pela Universidade Lusófona
Indiscutivelmente o Homem tem criado ao longo dos séculos os seus próprios deuses, de acordo com os seus pensamentos, conceitos e imaginações. No seu pensamento, o Homem julga que domina tudo, que é poderoso, que é competente, que nada nem ninguém o pode impedir de fazer qualquer coisa, talvez como compensação da sua finitude, das suas incapacidades e limitações.
Por isso, desde sempre teve a necessidade de criar deuses pessoais, locais, regionais e nacionais; deuses de ocasião ou momento, deuses de conveniência, deuses que se deixam comprar, que são manipuláveis, que se podem ver e tocar. Deuses que se vendem, deuses que trocam favores, deuses que são hoje, mas não são amanhã, deuses para cada gosto, capricho ou ideia. Deuses que encaixam nas suas preferências ou cosmovisão.
Esse conceito, na realidade, pode ser verificado através de toda a história da Humanidade, através da lista indeterminável de deuses imaginados, criados ou adotados nos diferentes momentos da existência humana, nas mais diversas civilizações e regiões da terra. Encontramo-la desde o princípio da civilização com a construção da Torre de Babel (Génesis 11:1-9), e dos zigurates, ou seja, construções religiosas, que procuravam funcionar como portas para a vinda dos deuses à terra, e no intuito do homem alcançar o céu e mostrar o seu poderio.
Também na Suméria vemos os adeptos de uma religião politeísta, caracterizada por deuses e deusas antropomórficos, representando forças ou presenças no mundo. Está também presente nos deuses do Egipto, representados com cabeças de animal sobre corpos humanos, que dominavam todos os aspetos da vida no Egito, quer seja da realeza quer das pessoas comuns. A cultura do antigo Egito baseava-se na crença de um panteão dessas criaturas que eram adoradas pelo povo. As mais de 1500 divindades explicavam a criação do mundo, representavam as formas da natureza e outros aspetos da vida. O panteão grego e romano com a sua grande galeria de deus, adaptado e modificado através de uma enorme lista de divindades que se comportavam como criaturas humanas. Ou seja, eram cheias de ciúme, inveja, vingança, ódio e amor.
Daqui podemos passar para a adoção de um conceito semelhante, com outro nome – os denominados “santos” da igreja católica romana, para cada preferência e momento, que são como semideuses e supostos intercessores. Não esquecendo também o culto a Maria, em tantos santuários espalhados pelo mundo. O facto de uma mulher, humilde, virtuosa, simples e pecadora, como ela a si mesmo se intitula, ao orar e a chamar a Cristo Seu Salvador,(Lucas 1:46) se torna pela mão dos homens numa deusa mãe, tal como acontece nos cultos do Mediterrâneo, por ser colocada em certa medida a par de Cristo, como “co-redentora” (Actos 4:12), quando na pratica dizem: “Maria rogai por nós….e a maioria das orações vão para ela- Não esquecendo o deus deste século Lúcifer (2 Corintios 4:4), que também é adorado e reivindicado por muita gente, abertamente e no oculto.
Mas há outro deus que impera, Mamom – o deus do dinheiro. Infelizmente, muitos se deixam dominar por este e outros deuses equiparáveis. Alguns até tendo responsabilidades na liderança religiosa, de vários domínios, até do meio denominado evangélico ou cristão. Deixam-se seduzir pelo deus do dinheiro, o deus da fama, do autoritarismo, da vaidade, das maldições que proferem contra quem não aceita as suas doutrinas. O deus da “prosperidade à custa dos outros”, e que está presente no culto de muitos. Não quero esquecer ainda o deus vingativo de algumas religiões, que só os ama a eles, e manda matar, violar e destruir os demais. Ainda temos os deuses que dividem o povo em classes sociais ou castas, onde só uns quantos têm direitos e privilégios – vivem “da” miséria enquanto outros vivem “na” miséria.
Recentemente também vimos entronizar-se mais uma vez o deus do economicismo, cujos seguidores advogam que os velhos e doentes não devem viver, porque são um grande peso económico para a sociedade. Os seguidores desse deus, acham-se na autoridade e capacidade de colocarem fim à sua existência. Já para não falar do deus de alguns, que dizem que os fetos não são seres humanos, mas eles podem definir o que querem e como querem. Acham-se no direito de os despedaçar e matar. Ainda temos o deus do materialismo, o deus do ateísmo, que vendo e comprovando as evidências não acredita em nada, e terminando no desporto, especialmente na nossa realidade o futebol e os clubes que são os deuses de muita gente e que em nome dessa religião chegam a insultar, prejudicar, odiar e até matar, quem não segue esse deus.
Finalmente, o deus dos que pregam e ensinam que o Coronavírus foi enviado por Deus como vingança. Quero dizer que não me revejo nem neste nem nos demais deuses. O Deus da Bíblia, em quem acredito, criou o Homem e, por sua vez, o homem criou os seus deuses, e assim estragou tudo levando pessoas a não acreditar em Deus por causa das suas atitudes e obras.
A Bíblia através dos seus livros revela esta triste realidade. Mas o mais importante é que ela fala de uma solução divina. Vejamos:
“Isso é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus”
(1 Timóteo 2:3-5)
“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigénito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3:16)
“Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo.” (Romanos 10:8)
“ Mas Deus, não levando em conta os tempos da ignorância, manda agora que todos os homens em todo lugar se arrependam”. Actos 17:30
Soli Deo Gloria!
Paulo Branco, 14 de Abril de 2020