QUE RESPOSTA?

QUE RESPOSTA?

RicardoRosa_3Ricardo Rosa

A Igreja enfrenta hoje um mundo complexo. A sociedade que Paulo, Pedro e João conheceram (ou melhor, as sociedades, pois os dois primeiros passaram por Jerusalém e Roma, pelo menos), são hoje uma espécie de revivalistas onde o avanço tecnológico impera e onde ainda se mantêm ligações às velhas crenças e fés. A sociedade em si, pode parecer à primeira vista, totalmente distinta. Há mais e melhores condições de vida, o analfabetismo é hoje muitíssimo mais baixo, a esperança média de vida aumentou, a “libertação” social da mulher ocorreu e a era do rompimento com os valores tradicionais impera.

Há sem dúvida uma mudança, mas será essa mudança a causa de uma diferenciação tão grande?
Será que Roma ainda é o “centro” do mundo?
E Jerusalém, será que ainda é o berço da fé cristã e o bastião do judaísmo?

Sim e não. Na verdade, existe uma transformação social, mas existe claramente uma espécie de procura inconsciente (?) do que eram os valores dessas mesmas sociedades. E é a isto que a Igreja hoje precisa de responder…

Que resposta daremos? Ou melhor, que perguntas nos são colocados e como nos vamos posicionar para responder?
As badaladas questões de género e sexo, o rompimento com o monoteísmo no qual Deus é o centro da vida individual e coletiva, questões chamadas “fraturantes” como a legalização ou a “oferta” de “serviços” como o aborto e a eutanásia, a legitimização da venda do corpo humano como ferramenta de prazer, a legalização do consumo de vários tipos de estupefaciantes… como vamos responder a tudo isso, sabendo que somos chamados a explicar as razões da nossa fé quando inquiridos (1ª Pedro 3:15)?

Por vezes, creio eu, somos idealistas e consideramos que explicar a fé que professamos, aquela que um dos irmãos do Senhor (Judas 1:3) apela a que seja motivo de combate (não bélico, mas espiritual), é uma fé triunfalista e igual à que estamos acostumados a ver em vários filmes de cariz “gospel”. Por outro lado, há quem faça da fé cristã uma fé económica e onde os “milagres” são comprados, onde a “maldição” é lançada sobre quem não contribui para a instauração do “reino” de um deus que é comercializado.

Que resposta damos, enquanto cristãos convictos e zelosos da graça e da fé, às questões que a sociedade nos coloca diariamente? Como manifestamos a graça e a irmandade em Cristo entre nós? Será que se Paulo hoje fosse vivo, não nos escreveria para colocar “em ordem”, vários dos nossos comportamentos? Procuramos nós imitar Cristo ou procuramos imitar uma falsificação de Cristo, ofertada por uma virtualidade assente em espiritualidade das redes sociais? As pregações no YouTube, os soundbyters nos tweets e os posts do Facebook e Instagram.

Como mostramos que somos sal e luz, quando deixamos a Igreja desvanecer na escuridão caótica que é a humanidade sem Cristo e onde Deus é tirado do centro, para ser substituído por todo o tipo de dependência e desejo? Com que moral criticamos o Israel resgatado da servidão do Egipto, quando cometem erros e desobedecem, se hoje tendo na mão as Sagradas Escrituras e sendo templos onde habita o Espírito Santo, não nos contemos em desobedecer e muitas vezes de modo premeditado, calculista e interesseiro?

Precisamos de regressar urgentemente ao modelo eclesiástico de Atos 2:42-47, onde todos tinham tudo em comum, onde a oração e o ensino estavam presentes e eram pilares da vida pública, de onde a Igreja nunca se deve ausentar ou permitir que seja forçada a sair? Num combate não com armas seculares ou ao estilo miliciano/revolucionário, mas numa atitude como aquela demonstrada pelo Senhor e por todos os mártires que têm dado a vida pela fé. Um combate espiritual e contra nós mesmos em primeiro lugar. O combate que o espírito trava contra o ego, a vontade de absentismo na comunhão dos santos, a ideia de meritocracia que se instaura no nosso ser, na qual por sermos XPTO consideramos que Deus e os outros nos devem vassalagem e subserviência…

Que resposta daremos a Deus, quando chorarmos lágrimas pelo afastamento e morte espiritual da nossa descendência, porque nos viu cansados, desgastados, irados, murmuradores, maquinadores de ruindade e antipatia? Que resposta daremos aos nossos filhos quando ouvirmos que o “nosso” Deus é um deus menor porque não cuidámos da nossa primeira igreja, a família, para nos gastarmos e deixarmos gastar enúmeras vezess dando pérolas a quem não as estima? Que resposta daremos aos divórcios, burnouts, afastamentos da vocação e outros tantos, que são vistos e que resultam tantas vezes da falta de ensino, discipulado, amor ao próximo, confissão, arrependimento ou recuperação?

Que resposta daremos a Jesus se Ele nos mostrar as mãos e o lado perfurados, questionando se a Sua morte e ressurreição não bastam para nos lançarmos diante de Deus em adoração, gratos por Ele mesmo ter solucionado o dilema caótico do pecado do Éden?

Afinal, quem somos nós? Somos aqueles que seguiram Jesus e vieram a Ele desde a Síria para O ver e ouvir (Mateus 5-7) ou somos como aqueles que clamaram ter curado e feito milagres no Seu nome, mas que na verdade desconheciam as Escrituras e o poder de Deus, não tendo sido transformados pela ação do Espírito Santo, mas desejando como Simão o Mago, pagar para ter o mesmo “poder”?

Quando se aproxima a celebração da natividade de Nosso Senhor, quem somos nós?